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Introdução
O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e possui uma história rica que atravessa séculos e culturas, espalhando-se rapidamente pelo mundo, onde ganhou destaque como bebida social e intelectual nos cafés que surgiram no século XVII.
Além de seu sabor e aroma característicos, o café tem despertado grande interesse científico por seus efeitos medicinais e propriedades bioativas. Rico em cafeína, polifenóis e ácidos clorogênicos, ele atua como estimulante do sistema nervoso central, melhora a atenção, o humor e o desempenho cognitivo, e apresenta ações antioxidantes e anti-inflamatórias. Diversos estudos mostram que o consumo moderado de café pode estar associado à redução do risco de doenças metabólicas e hepáticas, como o diabetes tipo 2, a doença hepática gordurosa não alcoólica e até mesmo alguns tipos de câncer.
Assim, o café deixou de ser visto apenas como uma bebida estimulante e passou a ser considerado um aliado potencial à saúde, quando consumido com moderação e dentro de um estilo de vida equilibrado.
O café e o trato digestivo
O café contém componentes bioativos, compostos fenólicos e cafeína que agem sobre a saúde, a digestão e o microbioma gastrointestinal.
O café estimula a produção de ácido gástrico, mas esse efeito depende do tipo de café e da presença de cafeína. Inclusive já existem trabalhos demonstrando que o consumo de café descafeinado melhora os sintomas da dispepsia funcional que é caracterizada com sintomas de saciedade precoce, distensão abdominal e dor epigástrica que normalmente afeta os pacientes com exames normais ou com poucos achados.
O consumo de café não está diretamente associado ao desenvolvimento de refluxo gastroesofágico, embora algumas pessoas sensíveis relatem sintomas após o consumo. A relação parece depender de fatores como quantidade ingerida, dieta e predisposição individual.
A cafeína estimula o sistema nervoso do intestino podendo acelerar o seu transito. Enquanto os polifenóis presentes no café modulam positivamente a microbiota intestinal, estimulando o crescimento de bactérias benéficas como Bifidobacterium e Lactobacillus. Estudos clínicos mostraram que o consumo regular de café aumenta a diversidade bacteriana e está associado a menor abundância de patógenos.
Estudos em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica, a famosa esteatose hepática, sugerem que compostos do café ajudam a reduzir inflamação, dimiuir o estresse oxidativo e melhorar o grau de fibrose e inflamação.
O café como o protetor do câncer
O consumo moderado de café (3 a 5 xícaras/dia) não está associado a maior risco de câncer e pode ter efeito protetor em certos tipos, como câncer de cólon, vesícula biliar e o câncer de fígado, também conhecido como carcinoma hepatocelular (HCC).
Os efeitos potencialmente adversos, como o discreto aumento do risco para câncer gástrico só parece aparecer em consumidores excessivos e não são consistentes entre os diversos estudos.
Assim, o café é considerado seguro e, possivelmente, benéfico no contexto da prevenção de algumas neoplasias digestivas.
Uma grande pesquisa conduzida na Inglaterra, com mais de 450 mil participantes, observou que consumidores de café (cafeinado, descafeinado ou instantâneo) apresentaram uma redução de 20% no risco de desenvolver doenças hepáticas crônicas e câncer de fígado, e 49% menos mortes relacionadas ao fígado, comparados a não consumidores.
Existem evidências de que o café reduz o risco de fibrose e esteatose hepática (NAFLD). Um estudo com 1019 pacientes mostrou que altos consumidores de café tinham probabilidade até 86% menor de desenvolver fibrose avançada, inclusive entre pessoas com alto consumo de álcool e infecções virais. Outra meta-análise de 11 estudos encontrou uma redução de 32% no risco de desenvolver NAFLD e 23% na progressão da doença em indivíduos que consomem café regularmente
Conclusão
- O consumo moderado de café (3 a 5 xícaras/dia) pode trazer benefícios gastrointestinais, especialmente pela ação antioxidante e pelo efeito positivo na microbiota e está fortemente associado à redução do risco de câncer de fígado e de outras doenças hepáticas crônicas.
- Não há evidência consistente de que o café cause doenças gastrointestinais em indivíduos saudáveis.
- Recomenda-se cautela apenas para pessoas com gastrite ativa ou refluxo ativo.
- O café deve ser considerado parte de uma dieta equilibrada, podendo contribuir para a saúde digestiva e metabólica.
Para saber mais:
Effects of a non-caffeinated coffee substitute on functional dyspepsia. — DOI: https://doi.org/10.1016/j.clnesp.2020.10.009
Effects of Coffee on the Gastro-Intestinal Tract: A Narrative Review and Literature Update — DOI: https://doi.org/10.3390/nu14020399